O Propósito das Religiões Divinas

Segundo os Escritos bahá’ís, a religião cumpre um papel central como força motriz que impulsiona a civilização humana. Bahá’u’lláh descreve o propósito da religião nos seguintes termos:

“E não é o objetivo de cada Revelação… efetuar uma transformação em todo o caráter da humanidade – uma transformação que se manifeste tanto exterior como interiormente, que afete sua vida íntima bem como suas condições externas?” Bahá’u’lláh (1)

De tempos em tempos, Manifestantes divinos trazem consigo ensinamentos, valores e práticas que permitem despertar populações inteiras para o avanço da civilização em uma extensão significativa que ultrapassa as fronteiras dos seus próprios adeptos. Isto é visto, por exemplo, com os avanços científicos e civilizacionais testemunhados em paralelo com o avanço das grandes religiões. Com qualidades extraordinárias inspiradas em seus Livros Sagrados, seus seguidores e instituições avançam em diversas frentes, como no estabelecimento de códigos universais de leis, na criação de sistemas institucionais para unir sociedades cada vez maiores e mais complexas, e na promoção coletiva de novos arranjos que visam o bem-comum.

Assim, a religião tem o potencial de servir como causa de amor e unidade, uma força motriz que, através do reconhecimento da unicidade humana, é capaz de guiar os seres humanos para caminhos mais elevados na promoção da justiça social. Isso passa por transformar conflitos, harmonizar dissensões e nutrir nos seres humanos um amor desinteressado pela humanidade que cultive a camaradagem e a concórdia. Bahá’u’lláh enfaticamente afirma que a paz, para com “todos os que habitam na terra” é um dos “princípios e preceitos de Deus”. (2)

Para além dos princípios oferecidos que podem reger a vida em sociedade, a religião pode também ser compreendida como um sistema de conhecimento e práticas que se ocupa com o interior, as qualidades espirituais e o relacionamento com Deus. Ela permite direcionar decisões morais e fornecer um entendimento das questões mais profundas do propósito e da iniciativa humana. Historicamente, “sempre que foi fiel ao espírito e ao exemplo daqueles Personagens transcendentais que legaram ao mundo os grandes sistemas de crença, ela despertou em populações inteiras capacidades de amor, perdão, criatividade, audácia, superação de preconceitos, sacrifício pelo bem comum e disciplina dos impulsos do instinto animal”. (3)

Este sistema de conhecimento e práticas harmoniza-se e é capaz de se complementar com a ciência, um outro sistema similar que se ocupa em compreender tanto os aspectos físicos do mundo como a natureza das relações sociais.

A Fé Bahá’í ensina que a religião sem a ciência logo degenera em superstição e fanatismo, enquanto a ciência sem a religião torna-se meramente instrumento de materialismo bruto.

Por fim, mesmo diante de eventos em que determinadas lideranças religiosas incitem a violência, o fanatismo e o preconceito, entende-se que a religião não deve ser causa de dissensão e contenda. Com base nesta compreensão, os bahá’ís mundialmente se engajam em movimentos pelo diálogo inter-religioso. Entende-se aqui que o esforço de aproximação das diversas religiões é uma resposta à Vontade Divina para a unicidade da humanidade. Adicionalmente, ao conceber que a religião tem um papel central na promoção da unidade, pautada pela livre e independente busca da verdade sem proselitismo, a Fé Bahá’í defende a separação entre religião e Estado.

1. Bahá’u’lláh, Kitáb-i-Iqán (Livro da Certeza).

2. Bahá’u’lláh, citado em Mensagem da Casa Universal de Justiça aos Bahá’ís do Mundo, 18 de janeiro de 2019.

3. Casa Universal de Justiça, Mensagem aos Líderes Religiosos do Mundo, Abril de 2002.